Em dezembro de 2022, o Brasil se viu à beira de um golpe de Estado. A ameaça de uma ruptura democrática foi real, mas a coragem de generais comprometidos com a Constituição e a covardia de Jair Bolsonaro impediram que o país fosse levado para a escuridão de uma nova ditadura. A trama, revelada pela Polícia Federal, expôs o papel crucial de cinco generais do Exército, que resistiram firmemente às pressões golpistas e garantiram que a democracia fosse preservada.
O Exército Brasileiro está dividido em seis grandes áreas geográficas de comando, as três principais estavam sob o comando de generais que se opuseram diretamente à tentativa de golpe de Bolsonaro. O general Tomás Paiva, comandante do Comando Militar do Leste, e o general Richard Nunes, comandante do Comando Militar do Nordeste, representaram a resistência legalista. No Comando Militar do Sul, estava o general Fernando Soares, que, à frente de uma divisão com mais da metade dos tanques do Exército, manteve-se firme na defesa da Constituição.
Esses generais, junto com um quarto
oficial ainda não identificado, formaram a linha de frente contra a intervenção
militar. Em uma troca de mensagens revelada pela Polícia Federal, um dos
coronéis golpistas, Reginaldo Vieira de Abreu, conhecido como “Velame”,
descrevia que cinco generais se opunham ao golpe, três estavam a favor e os
outros estavam indecisos. Os legalistas eram os líderes das divisões
estratégicas, e sua lealdade à Constituição foi decisiva para impedir que o
golpe fosse adiante.
Jair Bolsonaro, incapaz de agir
diretamente, tentou manipular os militares para que tomassem as rédeas do
golpe. Em 7 de dezembro de 2022, ele convocou uma reunião com o ministro da
Defesa, Paulo Sérgio, e os comandantes das Forças Armadas. O comandante da
Marinha, Almirante Almir Garnier, concordou prontamente com a proposta de uma
intervenção militar, mas os comandantes da Aeronáutica, brigadeiro Batista
Júnior, e do Exército, general Freire Gomes, se opuseram veementemente. Freire
Gomes chegou a ameaçar prender Bolsonaro caso ele insistisse no decreto de
intervenção.
Diante da resistência, Bolsonaro chamou
o general cearense Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, responsável pelo
Comando de Operações Terrestres, que era favorável ao golpe. Theophilo afirmou
que, se Bolsonaro assinasse o decreto, ele comandaria o golpe. No entanto,
Bolsonaro não teve coragem de assinar o decreto, preferindo transferir a
responsabilidade para outros, sem se comprometer diretamente.
No dia 14 de dezembro, quando o golpe
estava iminente, o ministro Paulo Sérgio convocou novamente os comandantes das
três Forças Armadas para apresentar uma nova versão do decreto golpista. O
Brigadeiro Batista Júnior foi incisivo: perguntou se o decreto impediria a
posse do presidente eleito. Quando Paulo Sérgio não soube responder, o
Brigadeiro se levantou e deixou a sala, destacando a falta de comprometimento
de Bolsonaro em romper com a democracia.
O golpe estava programado para 15 de
dezembro de 2022, com a prisão do ministro Alexandre de Moraes, presidente do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e a tomada do TSE. No entanto, a tentativa
de golpe foi abortada pela resistência dos cinco comandantes legalistas. Sem o
apoio das divisões militares, os golpistas não tinham a estrutura necessária
para concretizar o plano.
A coragem do brigadeiro Batista Júnior,
na Aeronáutica, e dos generais Freire Gomes, Tomás Paiva, Richard Nunes e
Fernando Soares, que comandavam as divisões mais poderosas do Exército, foi
essencial para que o Brasil evitasse uma ruptura institucional. Ao contrário de
outros membros das Forças Armadas que cederam às pressões, esses militares
defenderam a legalidade, preservando a Constituição e garantindo que o processo
democrático seguisse seu curso.
Se, naquele dezembro, os cinco
comandantes tivessem sucumbido às pressões e caprichos de Jair Bolsonaro, o
golpe de Estado teria sido consumado, e a história do Brasil teria tomado um
rumo sombrio e imprevisível. O destino da nação foi, portanto, definido pela
coragem desses homens. Graças a eles, nós, brasileiros, preservamos o direito
de relatar este episódio com a liberdade que ainda nos resta, sem precisar
submeter-nos aos horrores de um novo DOI-CODI, ou a quaisquer outras formas de
opressão que possam ameaçar nossa democracia.