Profissão-vergonha

Por Tarcísio Beserra 12/06/2009 – 2:21h Rola na Internet uma piada em que uma criança, ao ser indagada na escola sobre a profissão do pai, omite-a dos colegas por sentir vergonha de divulgá-la, vez que o pai é deputado federal e o filho não considera digno de falar para os amigos o verdadeiro ofício de seu genitor. Embora se trate de piada, cabe aí uma reflexão. A que ponto chegamos, não? Os políticos, via de regra, são eleitos pelo povo para representá-lo na busca de melhores condições de vida, trabalho, saúde, educação, entretanto o que se vê, na realidade, é algo bem diferente disso. O que temos, na grande maioria, são pessoas sem escrúpulos, que usam o poder exclusivamente para a satisfação de seus anseios pessoais. Ao passar a ser “autoridades”, passam a ver o povo que as botou lá como segundo plano, como subalterno. Nesse meio, infelizmente, não vence o melhor, o mais inteligente, o honesto, o mais capaz, o mais dedicado... Vence o que gasta mais, o que tem maior poder de convencimento (leia-se enganação), especialmente quando se reporta a uma platéia menos esclarecida. Muitos políticos não conseguem nem mesmo assinar o nome direito e nem escrever algumas linhas sem uma quantidade enorme de erros. Entram no meio político não em busca de contribuir com o crescimento de seu povo, mas, exclusivamente, visam o lado financeiro, as mordomias, a projeção, as propinas que darão cobertura aos gastos de campanha. O eleitor é totalmente esquecido após a eleição e só lembrado novamente meses antes da próxima, quando começará nova batalha para angariar, mais uma vez, o voto e reiniciar o ciclo novamente. É preciso que o eleitor se conscientize de que, se o voto foi comprado, a obrigação do político com ele morre ali, já que o que houve na verdade foi um negócio, um acerto de compra e venda, caindo por terra o compromisso de lutar posteriormente por ele, pois, em tese, não há mais débito algum entre as partes. A situação é tão crítica que não é raro se vê comparações entre políticos em função de um “roubar menos” que o seu antecessor. Ou seja, não se defende o melhor, nem o honesto, mas o menos corrupto. A corrupção é às claras, não carece de muito esforço para se chegar a essa conclusão. Basta que se pegue o total gasto por uma grande maioria dos nossos políticos e comparar com o total de salários que receberão em seu período de gestão que, em geral, se conclui que o valor gasto para se eleger foi bem superior ao que ganhará durante todo o seu mandato. A corrupção cobre o déficit. Temos por aí jovens acadêmicos inteligentíssimos, esforçados, que se “matam” para tentar angariar um bom emprego num mercado de trabalho tão competitivo, visto que, para que possa chegar a um bom êxito profissional, terão que ter diploma de curso superior, dentre outras tantas habilidades, tais como domínio da informática, outro idioma etc, etc. O político chega a cargos extremamente bem remunerados sem que tenha nenhuma qualificação, como diz o poeta Jessier Quirino, “analfabeto de pai, mãe e de parteira”, mas, em contrapartida, tem condições financeiras para chegar lá. Gente que não tem competência alguma, que não lê nada, que não tem conhecimento nenhum, que nunca geriu o mais simples ramo empresarial, por meio da compra de votos consegue entrar na política em cargos de gestão, em cargo executivo... Recentemente, um programa humorístico de tevê entrevistou diversos políticos no Congresso Nacional e muitos nem sabiam o valor do salário mínimo, embora tenham prometido em palanque que batalhariam pela melhoria das condições de vida de seus eleitores. Como, se nem sabe quanto ganham? Como lutar por algo que não se conhece? Como pode se conceber que alguém que não lê consiga entender a legislação a fim de que possa brigar pelo que é melhor para o povo que o elegeu, já que nunca nem abriu a Constituição para ao menos conhecer quais são os direitos e garantias fundamentais da população? Com esse cenário, gente de bem em geral nem sonha em entrar na política, embora tivesse um ideal diferente, uma intenção de fazer um trabalho digno de seu filho poder orgulhar-se de sua atuação à frente do cargo que viesse a ocupar, que fosse noticiado e lembrado sempre pelos bons feitos que fizesse... Esses ficam de fora. Alguns poucos que entram acabam se contaminando pelo sistema. Currículos são rasgados, promessas esquecidas, posturas abandonadas, decepcionando toda uma platéia que ansiava por algo diferente... Com isso, sonhos de um país melhor vão por água abaixo neste reino de enganação, mentiras e roubalheiras.